sábado, 21 de novembro de 2009

Mundo Paralelo Cybernético


Não consigo entender o que acontece comigo. O mundo que vejo agora se converte a uma visão surrealista e aos pouco me engole através de uma onda de luzes coloridas. Tudo se bagunça e corre a diversas direções. Não consigo entender nada. Agora sinto-me rodar dentro de um mar de luzes, como se estivesse em uma pia cheia da água e, de repente, alguém tira a tampa. A escuridão domina meus sentidos e começo a cair. Cai em um buraco sem fim. Minha vida passa na minha cabeça como se fosse um filme. Minha infância, minha adolescência. Era tão certinha em tudo! Lutava pelo que acreditava. Formei! Nossa, a utopia corria nas minhas veias. E agora estava caindo e caindo. Onde eu estava? Não sei!

Finalmente estava em um lugar colorido. Eram cores que nunca havia visto, então não sabia seus respectivos nomes. Meu corpo havia se transformado em algo que não conhecia. Andei um pouco naquele vazio espacial. Gritava, mas ninguém respondia. Devia estar há horas ali naquele lugar. Era alucinação minha? Como poderia saber! Era um mundo muito engraçado, me lembrava a história de Alice no País das Maravilhas. Uma voz resolve se manifestar. Perguntava por mim. A voz se impregnava em mim. Era como se a voz fizesse parte desse meu corpo transformado. Perguntei o que significava tudo isso. A voz replicou:

─ Não significa nada, ser cibernético! Tu es como eu, nesse mundo paralelo. É exatamente onde raras almas vêem e se perdem. Estamos no mundo paralelo da informática, criado pelo homem. Tu não conseguiste chegar aos céus. Agora está aqui!
─ Eu não entendo por que estou aqui. Tenho uma mãe doente que precisa de mim. Preciso sair daqui!
─ Não podes! Se fosses possível, também estaria longe daqui. Também sou do seu mundo. A mesma força mística que te prendeu aqui, me prendeu.

Olhei de novo ao redor, não via nada, apenas sentia uma força presente. Próxima a mim. Não era uma força hostil, pelo contrário, era uma presença agradável. E de repente aparece diante de mim uma tela. Dessas de tela plana, de alta qualidade. Era uma tela de computador projetando o passado. E lá estava eu, desesperada tentando achar um emprego. Entrei naquele colégio e uma mulher me recebeu. Eu era gorda. Terrivelmente gorda! Pesava 120 quilos. Minha auto-estima era muito baixo. Ermedite era o nome da mulher. Uma senhora baixinha de olhar severo e distante. Havia algo estranho naquela imagem. Eu também conseguia sentir pensamentos. Eram como perfumes que se infiltravam pelas minhas narinas. O seu sorriso parecia tão simpático, mas na verdade, seus pensamentos, praticamente nus, se insinuavam sexualmente para mim. Nossa, não conseguia sentir isso quando vivi essa situação. Era produto daquela imagem de computador. Sentia isso claramente agora.

Ela pegou meu currículo e me disse que ligaria. Dei as costas, e ela me olhava com um olho de desejo. O que significa aquilo meu Deus! O que está acontecendo! A voz, que se emudece, agora quebrava o silencio.

─ Tu es mui amável, Celestre! Por isso não enxergou as maldades do mundo!
─ Você de novo! Não entendo o que quer dizer!
─ Essa mulher te contratou porque sentia desejos por ti. Queria saciá-los!
Aquela presença agradável não poderia estar mentindo para mim, mas eu não era uma pessoa atraente, de qualquer jeito. Era gorda ao extremo, dona de grande cintura e pernas cheias de gordura. Lembro-me que quase me arrastava pelo local de trabalho. Era ajudante de secretaria e havia me formado em pedagogia. Mas fazia sentido, pois não enxergava. Agora na tela passou o professor Lobato. Era o professor mais bonito da escola. Eu olhava para ele quando passava. Nunca me daria bola, sei bem disso.

Da secretaria, acompanhava os movimentos dos alunos. Sentia-me bem ali e também precisava do dinheiro para o tratamento da minha mãe. Nossa como deve estar ela agora? Eu estou muito preocupada! Agora na tela do computador passa a imagem de Ermedite me olhando. Um olhar indecente de desejo. E seus pensamentos, podia ouvi-los como por mágica! “Vontade de apertar aquela gordinha. A minha tara são mulheres gordas”. Senti nojo daquela mulher. Tinha grande respeito a ela! Depois passou a imagem do professor Lobato. Ele olhou para mim com um olhar terno. Nossa, naquele momento me derreti! E os pensamentos dele saíram de sua mente e ficaram nítidos para mim. “Vou por minha namorada no lugar dessa gorda nojenta!” Como? Como pude me enganar e se tornar cega! Esse homem estava querendo me prejudicar! Meu Deus, agora tudo faz sentido!

─ Celeste, seu coração puro não te permitiu enxergar o obvio! Esse mundo é animal! Eu já conheço o fim dessa história sem mesmo conhecê-la integramente! Aquele homem lhe armou uma cilada. Pediu para que tomasse conta da sala num momento de prova. Então os alunos enxergaram o seu corpo. E tal imagem era motivo de agressão para eles. Então provocaram-te ao ponto de tu saíres correndo aos berros.
─ Sim, e a Madre superiora me chamou na minha sala e me comunicou a demissão.
─ Então agora veja na tela o que aconteceu.

Era eu lá na tela. Correndo, ou pelo menos tentando correr. Atordoada, chorava que nem criança. Desesperada por não conseguir pagar o tratamento de minha mãe. Atravessei a rua e o carro me pegou. Tudo ficou estranho.

─ Sim, Celeste, tu te precipitaste e acabou onde estás. Lobato agora conseguiu que a namorada ocupasse o seu lugar e ninguém lembra de ti! Saíste sozinha e esquecida! Agora continue olhando na tela.

Era uma visão abominável. Era a madre superiora aos beijos com Ermedith. Mônica a beijava com uma fúria. Não conseguia entender mais nada. Estavam na sala dos professores, rolando no dinheiro. Aquele dinheiro era o que tinham arrecadado com a festa junina. Estavam lá rolando uma em cima da outra. Era uma visão muito forte. Caminhou pela estrada cibernética novamente. Agora era dourada e havia muitas portas. Entrou e deu de cara com uma comunidade. Estava escrito: “Graças a Deus aquela gorda nojenta saiu daqui e clara está conosco!”. Havia outra mensagem: “Uma singela homenagem, a uma mulher que, para muitos só foi a sua imagem exterior, mas que para mim era a interior. Celeste, foi injusta sua demissão! Volta”

─ Eu não entendo, por que pode haver mensagens que me defendam, sendo que aquelas crianças me odiavam!
─ Celeste, muitas pessoas aprenderam a enxergar pelos olhos da incoerência desse mundo, mas alguns, na verdade poucos, conseguem te ver como tu eras! Simpática e prestativa. É um mundo cruel lá fora, então está bem aqui. Protegida das desventuras do mundo lá fora!
─ Mas eu preciso voltar! Não sei seu nome, amigo.
─ Meu nome é Gabriel, é apenas o que podes saber no momento.

Apesar de estar preocupada com minha mãe, sinto-me confortável aqui. Fecho meus olhos e não vejo nada agora. Um campo de flores cibernéticas, um Elíseos maravilhoso me vem a mente. Minha mente começa a ficar pesada. Não consigo entender o que está me puxando. Agora está tudo turvo. Minha mente esta sendo absorvida por um túnel de cores indescritíveis. Sinto estar imóvel, em uma cama. Meus olhos aos poucos se abrem. Agora estou em uma cama de hospital. Uma mulher franzina, de branco vem ao meu leito e me conforta. Olho para mim, estou muito magra.
─ A dorminhoca acordou finalmente! Está ai a 3 meses!
─ Minha mãe, por favor, onde está?
─ Ela está bem! Tratou-se da doença e como milagre está curada!
─ Meu Deus, não posso acreditar. Estou fraca demais!
─ Ah, chegou flores para você. É de Gabriel, conhece?
Senti um frio na espinha. Gabriel!
─ Sim, telefonou e disse que está vindo para cá. Poderão conversar em breve.
A porta se abre, era um rapaz jovem e de boa aparência. Vinha de longe. Muito longe, ver Celeste. Tinham muito o que conversar. A porta se fecha. Leitor saiamos agora por educação.

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